Mutilados e sem apoio do Estado, sobreviventes de ataques lutam para recomeçar a vida
Publicado em 26/06/2012, às 06h57
Fotos: Hélia Scheppa/JC Imagem
Texto: Carlos Eduardo Santos e Verônica Falcão
Há quem diga que um banho de mar lava
até a alma e os que pegam onda garantem: não existe mal no mundo que um
bom dia de surfe não cure. Mas foi de uma tragédia durante um mergulho
inocente que a vida de 35 pessoas se cruzaram em Pernambuco. E deixaram
marcas para sempre no corpo e na mente. Mutilados e sem nenhum apoio do
poder público, os sobreviventes de ataques de tubarão nas praias do
Estado ainda lutam para voltar a ter uma vida normal. Com distúrbios do
sono – sintoma recorrente após ataque de tubarão –, eles esbarram no
velho preconceito contra os portadores de deficiência física.
Desempregado e com um filho menor de um
ano para criar, Wellington Luan dos Santos, 18 anos, lembra com detalhes
do dia em que foi dar uma volta na Praia de Piedade com um amigo, há
quatro anos. “Tinha comprado uma bicicleta e decidi ir à praia. Entrei
sozinho e meu amigo ficou na areia. Fui muito para o fundo e só senti a
pressão.”
Em uma só botada, o tubarão arrancou as
nádegas e a mão direita do jovem, na época, com 14 anos. O ataque
ocorreu próximo à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no
Grande Recife. “Tinha pesadelos já no hospital. Acordava assustado. O
ruim é que não posso ainda fazer coisas simples, como descascar uma
maçã, cortar uma verdura”, lamenta o jovem, que mora de aluguel e sonha
em voltar a estudar. Destro, Wellington precisou aprender a escrever com
a esquerda e a andar de bicicleta com apenas uma mão. E não culpa o
peixe, tanto que fez uma tatuagem de um tubarão no braço esquerdo.
Também desempregado e cursando direito
na faculdade, Charles Heitor Barbosa Pires, 34, enfrentou uma
dificuldade ainda maior, pois perdeu as duas mãos em ataque quando
surfava, no mês de maio de 1999, em frente ao Edifício Acaiaca, em Boa
Viagem, no Recife. Com a ajuda de um professor, o universitário entrou
na Justiça para garantir o direito de receber próteses do Estado.
Charles ganhou a ação, já está com as
próteses – que custaram R$ 654 mil e vieram da Escócia – e agora tenta
recomeçar a vida. As mãos eletrônicas respondem a estímulos captados por
eletrodos.
Infográfico
FONTE ACESSADA dia 11/07 : http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2012/06/26/vitimas-de-tubarao-carregam-marcas-para-toda-a-vida-46863.php
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