domingo, 15 de julho de 2012

Pelo direito de surfar ''no quintal de casa''

O surfe foi proibido no Grande Recife em 1995 e, até hoje, praticantes lutam pelo direito de pegar onda

Publicado em 28/06/2012, às 06h57

Vinte e oito de junho de 1992. Há exatos 20 anos, em frente à Igrejinha de Piedade, Ubiratan Gomes foi atacado por um tubarão, motivando, três anos depois, a proibição do surfe nas praias metropolitanas. Em meio ao decreto, uns lutam pela liberação de áreas e outros surfam em locais proibidos. Este é o assunto da série Ataque de Tubarão: 20 anos. Devido à repercussão, a série, prevista para terminar nesta quinta-feira (28), continua até sábado.

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Inaldo Vieira (D) aprendeu a surfar em Boa Viagem. Alexandre Ferraz, em Serrambi.
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Fotos: Hélia Scheppa/JC Imagem
Textos: Marcelo Sá Barreto

De óculos escuro, bermuda e camiseta, indumentária típica de um surfista, Mauro Melo, 42 anos, dirige-se diariamente à Praia de Zé Pequeno, em Olinda. De atleta passou a ser uma espécie de fiscal daquela orla. Checa as condições do mar, analisa a coloração da água e, com um binóculo, verifica se há perigo iminente na área. Desde que empunhou a bandeira da liberação do local para a prática do surfe, há mais de oito anos, e conquistou legalmente o direito no dia 17 de fevereiro deste ano, viu o renascimento do esporte na cidade natal. Em Zé Pequeno, não há registro de ataques de tubarão, mas não se pode descartá-los. Por isso, mantém vigília para que, de herói da comunidade, não se transforme em vilão.

Infográfico

Ataque de Tubarão (Surfe)
       O amor pelo surfe e o direito de poder pegar onda em frente de casa deflagraram uma discussão de muitos anos entre Maurão, como o presidente da Associação de Surfe de Olinda (ASO) é conhecido, e o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). Com dados estatísticos que comprovavam a inexistência de perigo em Zé Pequeno, passou a participar das reuniões do Cemit. Ficou conhecido. Sua luta, idem. Em 2012, após 17 anos de proibição das praias urbanas para o uso esportivo, comemorou a vitória. Mas não sem preocupação.
      “Com o apoio da população e da prefeitura de Olinda conseguimos a liberação. Outros esportes aquáticos eram praticados em Zé Pequeno. O surfista se transformou em marginal, desde que os tubarões começaram a atacar na nossa costa”, argumenta. “Agora, crianças, adolescentes e adultos voltaram a surfar. Mas todo dia verifico as condiçõe do mar.”

        Maurão não arreda o pé de Zé Pequeno. Se o mar estiver turvo e a maré, cheia, ele próprio instala uma rede de pesca de mais de 1 km por trás da arrebentação, pensando em evitar ataques. Para acabar com a pesca do camarão, dieta básica de espécies marinhas, tem jogado pedregulhos na lama para impedir o arrasto nos locais proibidos pelo Ibama. Com mais camarões, mais alimento para os peixes; com mais peixes, mais comida para os tubarões. Ali, nunca houve ataque, mas para ele, não custa ajudar a equilibrar o bioma marinho. “As mães dos meninos que surfam dizem que não querem, um dia, me odiar”.
 
 
 

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