Nesses 20 anos, 55 pessoas foram atacadas, mas há quem defenda que esse número pode chegar a 100
Publicado em 23/06/2012, às 17h52
Textos: Carlos Eduardo Santos e Verônica Falcão
Foto: Igo Bione/JC Imagem |
Há duas décadas,
Pernambuco entrava no mapa dos ataques de tubarão no mundo.
Oficialmente, 55 pessoas foram atacadas de 1992 até hoje. Vinte delas
morreram. Mas há quem acredite que esse número pode chegar a 100. A
subnotificação das investidas do animal no litoral do Estado é o tema de
abertura da série de reportagens Ataque de tubarão: 20 anos, que segue
até quinta-feira (28), dia em que a morte de Ubiratan Martins Gomes, a
primeira vítima oficial, completa duas décadas. Na segunda-feira (25),
confira a história de um padre que morreu após ser atacado na década de
1940, na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.
"Corpo de identidade desconhecida encontrado na Praia de Piedade com mutilações.” Em 28 de junho de 1992, um ofício da 4ª Delegacia de Polícia Metropolitana enviado ao Instituto de Medicina Legal (IML) descrevia o cadáver de um homem que apresentava grandes ferimentos no antebraço esquerdo, coxa direita e nádegas. O laudo do médico legista constatou afogamento por asfixia e apontou que as lesões eram semelhantes às provocadas por “animais aquáticos”. O corpo era de Ubiratan Martins Gomes, considerado o primeiro registro oficial de ataque de tubarão em Pernambuco.
Na próxima quinta-feira (28), a morte de
Ubiratan completa 20 anos. Nessas duas décadas, dezenas de novos
ataques aconteceram. Oficialmente, são 55. Mas de 2004, quando o governo
do Estado criou o Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarão
(Cemit) e começou a contabilizar os ataques, até hoje, essa contagem foi
sempre marcada por polêmica. Há quem defenda que vários casos de
afogamento foram provocados por investidas de tubarões e ficaram fora da
lista oficial.
O mais emblemático é o do soldado da
Aeronáutica Darlan dos Santos Luz, que morreu aos 20 anos quando tomava
banho de mar em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, em 3 de setembro de
2006. O laudo do IML revela que o jovem faleceu dentro d’água em
decorrência de choque hipovolêmico (perda de sangue). O caso de Darlan
nunca constou como ataque de tubarão.
Para a médica-legista e pesquisadora de
ataques de tubarão Sueli Arruda, o caso do soldado causou um “problema”
no Cemit. “O laudo apontou choque hipovolêmico e os estudiosos do Cemit
não consideraram ataque. Nós, médicos-legistas, nunca nos arvoramos em
querer entrar na seara de outros especialistas. Vôcê não vê no laudo do
IML porque o tubarão atacou, se era cabeça-chata ou outro, mas o inverso
não é verdadeiro. Os estudiosos da área aquática têm o hábito de dizer
‘aquilo não foi ataque’, ‘ele não estava vivo, estava morto’, com base
em que eu não sei, porque eles não têm nem conhecimento para isso”,
afirma a médica, que já integrou o comitê.
Em junho de 2004, quando o Cemit
contabilizava 51 ataques com 19 mortes em 12 anos, Sueli apontava 56
vítimas mortas. Hoje, a médica-legista prefere não arriscar, mas o
coronel reformado do Corpo de Bombeiros e pesquisador de ataques Neyff
Souza defende que, nos últimos 20 anos, o número de investidas de
tubarões no litoral pernambucano pode chegar a 100. “A minha forma de
avaliar é diferente da deles (Cemit). Considero ataque, quando os corpos
aparecem com lesões de tubarão. Eles (do Cemit) só consideram se houver
evidências e relato de alguém que tenha presenciado o ataque. Daí essa
diferença gigantesca”, ressalta o coronel reformado, que possui um
arquivo com detalhes e dezenas de fotos e vídeos de todas as vítimas
oficiais e suspeitas.
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