Marcone Silva cata latinhas para sobreviver e orienta turistas em inglês, espanhol, francês, italiano ou alemão
Publicado em 04/02/2013, às 06h23
Maiara Melo
maiaramelo29@gmail.com
A história de Marcone Manoel Santos da Silva é surpreendente e igualmente emocionante. Com 41 anos, ele sustenta a esposa grávida de cinco meses e dois filhos, de 1 e 5 anos, com o pouco que consegue catando latinhas, em Olinda. Para adquirir o máximo de dinheiro, chega a passar três dias sem voltar para casa, tomando banho de mar e comendo restos de comida que encontra no lixo. Aposta na folia para reforçar a renda. O inesperado desta rotina é que ele conversa com os turistas, esclarecendo dúvidas e dando informações sobre nossa cultura em inglês, espanhol, francês, italiano ou alemão. “Falo melhor em outras línguas do que em português”, confessa com a maior naturalidade do mundo.
O homem que tinha tudo para trazer no rosto a amargura de uma vida sofrida, mas escolheu mostrar os olhos pequenos, por causa do sorriso largo, mora no bairro de Caixa D’água, em Olinda. “Quando eu sorrio, quase fico sem enxergar”, brinca. O modesto poliglota paga R$ 120 mensais por um quarto sem conforto, mobiliado graças a doações da vizinhança e dos pais. “Minha preocupação agora é com o bebê, que daqui a pouco chega. Tenho que arrumar um enxoval e um lugar melhor para morar, porque uma criança precisa de espaço.” Marcone consegue catar latas suficientes para arrecadar R$ 7 diariamente. Ele está aproveitando o período de festa para trabalhar mais e conseguir acumular o necessário para o conforto do terceiro filho. “Às vezes acontece de alguém chegar e levar o que eu catei, enquanto estou dormindo. Aí complica ainda mais a minha vida.”
LIÇÕES - Há mais de 20 anos – ele não sabe precisar quanto – trabalhava ajudando comerciantes da orla de Boa Viagem. “Eu fui observando, ouvindo, prestando atenção, conversando com os turistas e acabei aprendendo os idiomas”, conta. Com isso, trabalhou nas praias do Litoral Sul do Grande Recife, como Gaibu e Calhetas. “Comecei a mostrar as praias para o povo que vinha de fora. Virei uma espécie de guia”, lembra. Em busca de uma vida melhor, foi para o Ceará, onde morou duas décadas. “Lá, conheci a minha mulher e tive meus filhos. Voltei para Pernambuco há oito meses.” Desde então, sem oportunidade de emprego, optou pela coleta para sobreviver. “Sou trabalhador, tenho força e coragem. O que eu não posso é roubar e matar. Uso a minha disposição para conseguir meu dinheirinho honestamente. Eu podia roubar, mas vou fazer isso não. Prefiro voltar para casa em paz.”
Quando chega em casa, a luta continua. “Lá não tem água encanada. Eu pego uns baldes, vou em um poço, encho e deixo o suficiente para ir catar as minhas latinhas com a certeza de que a minha esposa não vai precisar fazer esforço.” Durante o período em que fica fora de casa, para se comunicar com a família, sempre que pode, arruma um celular emprestado de algum folião, para pedir a bênção à mãe e ao pai. “Tenho que falar com mainha e painho. Perguntar sobre as crianças”, explica.
Quem quiser ajudar, Marcone mora na Rua dos Marajás, nº 155, Caixa D’Água, Olinda.
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