O fotógrafo Daniel Botelho é colaborador da revista National Geographic Brasil já há algum tempo. Seus mergulhos com os animais mais perigosos dos oceanos estão chamando a atenção. Matérias com as fotos de Daniel têm sido publicadas em vários sites do Brasil e do exterior.
Mas ninguém conversou com ele a respeito das técnicas que envolvem esse tipo de mergulho com predadores de duas toneladas. Não se resume a pular na água, muito pelo contrário, há uma série de medidas de segurança. Batemos um papo – com informações e imagens exclusivas! – focados nesse aspecto e também na emoção de estar frente a frente com os tubarões brancos.
Como se vê pelo relato do Daniel, não há nada de monstruoso nesses animais. A fonte do medo é mesmo a ignorância. Espero que curtam.
Me fala da expedição: onde foi, qual o seu papel, por que esse lugar?
Fui lá para fotografar, mas embarquei como safety diver (mergulhador de segurança) também. O objetivo da viagem era levar turistas para sair da gaiola com os tubarões brancos. A expedição aconteceu na ilha de Guadalupe no México, um lugar cuja visibilidade nos permitiria mergulhar com varios brancos ao mesmo tempo.
O que faz um safety diver?
É um mergulhador de segurança. Os clientes faziam uma rotação, cada um por vez saía da gaiola por dez minutos. Era minha obrigação protegê-los e manter um ambiente pacífico na interação com os tubarões. O safety diver deve conhecer o comportamento do animal e antever uma mudança de comportamento, como uma agitação ou excitação por parte do tubarão. Nesse caso o mergulho pode ser abortado imediatamente.
E você precisou intervir em algum momento nessa viagem?
Sim, um deles foi quando uma fêmea de seis metros conhecida como Arden Grace se aproximou de um cliente da Austrália. O cara se assustou e nadou apressado pra longe, provocando uma excitação imediata no tubarão. Então, entrei na frente e mantive minha posição, e o tubarão mudou o comportamento de novo para o modo “não caçador”.
Como funcionava a rotação?
Mergulhavam comigo um cliente e outro safety diver. Descíamos os clientes na gaiola e pulávamos os dois safety divers direto na água. Quando havia certeza de que os tubarões estavams tranquilos, convidávamos o primeiro cliente para sair da gaiola por dez minutos, e assim se fazia a rotação. O cliente sempre ficava entre os dois safety divers.
Como é estar na água com o grande branco? Com quantos tubarões mergulharam ao mesmo tempo?
É preciso estar muito atento! Ainda mais porque mergulhamos com até seis tubarões brancos de uma vez, pelo menos é o que foi possível identificar. Um amigo pesquisador está analisando cada uma de minhas imagens na tentativa de identificar quais espécies foram captadas pelas lentes da minha camera. Alguns brancos conhecidos naquela área já foram identificados, como os machos Thor e Rudo, que medem quase seis metros, e também a fêmea Arden Grace.
Há diferença entre nadar com um tubarão branco ou com dois ou três de uma vez?
Todos os tubarões devem estar devidamente monitorados, isto é, quanto mais tubarões, maior a concentração na interação. Todos precisam se sentir observados e isso os mantém relaxados. O mergulhador deve, portanto, manter o contato visual de forma disciplinada. E quando dois tubarões vêm pela frente e um por trás tem que girar no proprio eixo, mostrando que o perimetro está coberto. Não é fácil.
Qual o nível de dificuldade de estar na água com esse animal?
Dificuldade máxima em termos de atenção e foco. Trata-se do que chamo de mergulho 3D, que consiste em manter o perímetro total coberto, tanto para os lados quanto para cima e principalmente para baixo, já que muitos deles se aproximam por baixo. O risco é administrável por meio desta “leitura” do animal. É necessário ter respeito e saber identificar as reações agressivas – e se for necessário, abortar as atividades. Há sinais bem claros de estress, mas costuma ser muito em função do comportamento do mergulhador, pois se você ficar tranquilo e estático, o tubarão percebe a adaptação ao meio e sabe que está sendo observado. A instabilidade do mergulhador e a falta de um excelente controle de flutuabilidade podem aguçar a curiosidade do bicho.
E em comparação a outros animais com os quais já mergulhou: lulas gigantes, crocodilo do Nilo, outras espécies de tubarão. Quais são mais perigosos?
Durante uma hora de mergulho com o tubarão branco não pode haver uma desatenção nem de 30 segundos. Apesar de não enxergar o homem como presa e de ser muito seletivo em sua alimentação, ele é letalmente curioso e, devido ao seu tamanho, uma mordida investigatória pode ser fatal. Já o crocodilo do Nilo e a lula gigante podem facilmente consumir um mergulhador: eles entendem que o homem pode ser um alimento. Por isso considero o crocodilo do Nilo em primeiro lugar, ainda mais porque seu humor pode mudar de acordo com a temperatura do ambiente, criando uma janela muito limitada para se mergulhar com eles em razoável segurança. As lulas gigantes em segundo e em terceiro o tubarão branco. A estatística de ataques de crocodilos do Nilo na África suplanta milhares de vezes o número de acidentes com tubarões brancos. Um ataque de tubarão branco seria muito mais um acidente ou um mal entendido.
Então por que foram consagradas as imagens dos tubarões brancos mordendo as gaiolas dos mergulhadores?
A cena dele mordendo é difundida por causa do cinema e da mídia sensacionalista. Para que ele ataque a jaula dos mergulhadores, basta amarrar um pedaço de atum numa corda e vir puxando em direção à gaiola, ou seja, é uma composição arranjada, onde se deixa o tubarão extremamente excitado com muito engodo e pedaços de peixe. Eu coloquei somente o necessário para atrair os animais, depois mantive um nível bem discreto de atrativos e o que encontrei foram tubarões de boca fechada. Se formos juntos a uma churrascaria, você vai fazer fotos minhas de boca aberta também.
Tubarões brancos são encontrados na costa brasileira?
As concentrações mais famosas de tubarões brancos no mundo são a África do Sul, Austrália, Califórnia, Ilha de Guadalupe, mar da Nova Inglaterra e Mediterrâneo, mas o tubarão branco é o animal mais endêmico dos mares, podendo ser encontrado, ao menos em tese, em qualquer parte dos oceanos. No Brasil já foram capturados alguns poucos indivíduos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eram animais com 5 metros
bela foto
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