terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ten. Vitor Marçal - Guarda-vidas na radicado no Hawaii a 18 anos.

Estava lendo a matéria da Revista Fluir na sessão "Bombando" (Mar/2010. Ano 27, Nº03. Ed. 293), que tratava sobre o “atual” (2010)  Ten. Vitor Marçal que trabalha na elite do salvamento aquático havaiano, ele também é um waterman completo e pratica várias modalidades de esportes com prancha, como surf, tow-in, kitesurfe, kitefoil, remada em canoas havaianas, travessias de corridas de pranchas de remada, moutain bike, jiu-jitsu no verão, mergulho e golf. Mas, sua grande paixão é o foilboard ou foilsurfing, modalidade na qual é um dos pioneiros (Waves,2004), fui em busca da matéria, mas não achei. Realizando uma busca pelo seu nome encontrei várias matérias que postarei em seguida, inclusive um vídeo.



A pedra em homenagem a Eddie Aikau está ali, a pouco metros da areia de Waimea Bay. Ela faz lembrar o salva-vidas que desapareceu em 17 de março de 1978 ao sair de um barco que naufragava para tentar buscar ajuda. Hoje, Eddie Aikau dá nome ao campeonato de ondas gigantes disputado naquela praia. E quem ajuda a tomar conta dela é um brasileiro. Vitor Marçal está sempre pronto para um resgate, assim como outros que deixaram o Brasil tempos atrás e obtiveram respeito como salva-vidas nas temidas praias havaianas (GABRIELE LOMBA, 2007). 
Após três anos de muito trabalho informal, um toque do destino acabou levando-o para a nova profissão.


"Quem fala que não tem medo está mentindo. A presença do Eddie é muito forte por tudo o que ele representou" Vitor Marçal, guarda-vidas.
- Eu participei de um resgate (este resgate foi de um ex salva-vidas, entenda que não estava na ativa) e fiquei sabendo que dias depois haveria um teste para recruta. Fiz e passei. O teste físico não é muito difícil, mas depois é preciso passar no de primeiros socorros, entre outros.

Waimea foi uma das primeiras praias onde ele trabalhou. Um lugar mágico, de água cristalina. Durante o inverno havaiano, as ondas ali ficam gigantes, e é necessário proibir banhistas de entrar no mar. No dia seguinte, porém, a praia pode estar como uma baía, sem nenhuma onda.
- Eu me acostumei. Não quero ir para outra praia. Eu limpo a praia, eu nado, eu surfo aqui. A gente cuida da praia. É como se fosse um filho.
O último surfista profissional a morrer em Waimea foi Donnie Solomon, em 1994. Em situações extremas, pode-se ter cãibra, perder a prancha, se machucar, beber água após uma queda ou até mesmo estourar o tímpano.
- Tivemos que ir atrás do Michael Ho. Titus Kinimaka (outro ícone do surfe havaiano) uma vez machucou o fêmur.
Mas engana-se quem pensa que os dias de ondas gigantes dão mais trabalho. Quando o mar tem ondas intermediárias – de 3m a 4m -, a atenção tem de ser redobrada.
- É difícil trabalhar quando as ondas estão com tamanho intermediário porque muita gente quer entrar na água para pegar onda de peito. Quem não conhece a onda, acaba caindo e se machucando feio: quebra o ombro, as costas, o fêmur. É um lugar intenso.

"Eu me acostumei. Não quero ir para outra praia. Eu limpo a praia, eu nado, eu surfo aqui. A gente cuida da praia. É como se fosse um filho" Vitor Marçal, guarda-vidas.
Vitor já perdeu a conta de quantas vezes viu o campeonato Eddie Aikau. No posto, ele guarda uma fotografia antiga do antigo salva-vidas, uma força a mais para encarar os desafios diários.


- Quem fala que não tem medo está mentindo. A presença do Eddie é muito forte por tudo o que ele representou. Ele trabalhava sozinho. Quando acabava o expediente, ia até Sunset ver se estava tudo bem. Naquela época os salva-vidas não ganhavam nada, mas ele fazia pelo amor que tinha ao lugar onde morava – conta. 


Entrevista concedida a Waves cujo título da matéria foi - Viciado em água salgada escrito por Bruno Lemos em 13/05/04 11:09 GMT-03:00.

Salvar vidas não é uma tarefa para qualquer um. Fazer isso no Hawaii, onde o mar possui uma força descomunal, correntes poderosas e ondas gigantes, além de pedras e corais no fundo, sem falar nos tubarões, pode parecer coisa de maluco. Mas foi justamente essa profissão que o brasileiro Vitor Marçal escolheu.

Radicado nas ilhas havaianas, Marçal atua há sete anos como salva-vidas no North Shore de Oahu, região que abriga as principais arenas do surfe mundial, como Waimea, Pipeline e Sunset Beach.

Quais são os principais pontos necessários para ser aceito como salva-vidas no Hawaii?

Ter um certo conhecimento da área local, das ondas, correntes, uma boa forma física, disposição, passar no teste físico de mil jardas na corrida e mil nadando em menos de 25 minutos, remar uma prancha de doze pés indo e voltando quatro vezes num total de 400 metros em menos de quatro minutos e correr 100, nadar 100 e correr mais 100 metros em menos de três minutos, ter credencias e cursos de primeiro socorros e um curso de ressuscitamento cardiopulmonar (CPR), outros cursos como scuba, etc. Os melhores resultados vão para uma entrevista, em que você é ou não aceito, e então fará um curso de três semanas e meia, com todas as técnicas de salvamento dentro dos padrões e regras do Estado havaiano e norte-americano.

Quais são as vantagens e desvantagens dessa profissão?

Vantagens: estilo saudável de vida, teu escritório é na praia, é uma gratificação pessoal única ajudar e salvar vidas, também tem uma aposentadoria, auxílio médico hospitalar, dentista. E por estar num dos lugares mais visuais de onda no mundo. Desvantagens: o salário é razoável considerando as condições do inverno havaiano, alguns se machucam em resgates, você arrisca sua própria vida para salvar uma outra, o nível de stress no inverno é alto, mas amo meu trabalho.

Qual o momento mais marcante da sua carreira?

Uma gratificação única e um bem estar em saber que você fez uma diferença na vida de uma pessoa, como um senhor de 73 anos que eu ressuscitei e viveu, ele me disse: "Deus foi a primeira pessoa que me deu a vida, a segunda foi meu pai e você me deu ela de novo pela terceira vez".

Durante os últimos anos ocorreram muitos afogamentos, desaparecimentos e até mesmo algumas mortes no North Shore relacionadas ao oceano e/ou ondas grandes. Quais foram os casos mais famosos e quais os conselhos para evitá-los?

Tivemos muitos incidentes em praias na costa do North Shore que não são guardadas pelos salva-vidas, como Keiki, Logs, Backyards, Mokuleia e outras. Muitos desses incidentes também aconteceram antes das nove da manhã e depois das seis da tarde, considerando que fazemos hora-extra dependendo das condições, especialmente se o mar está subindo durante a tarde. Ultimamente fizemos muitos resgates após o horário de trabalho, ou seja, praticamente no escuro. Outros casos foram em lugares onde todos sabemos existir a probabilidade de ter tubarão, temos um dos mais perigosos do mundo habitando as águas havaianas. Tivemos uma garota militar que desapareceu no quebra côco de Waimea à noite e recentemente uma outra em Backyards que não foi encontrada, além de um turista alemão no reef de Velzyland em direção a Revelations. Tentamos ressuscitar um argentino em Logs e usamos todos os recursos disponíveis, mas ele tinha ficado embaixo por muito tempo e provavelmente sofreu um grande impacto, que provocou um desmaio e eventualmente veio a se afogar.

Um conselho, em geral para os caçadores de fama e fotos: respeite as condições, se informe melhor sobre as condições do mar, vento, correntes, bancada, canal, etc. Surfe em lugares com salva-vidas, procure obter informações das ondulações que podem ou não crescer durante o decorrer do dia, esteja em boa forma, tenha uma boa atitude, conheça seus próprios limites e vá aos poucos se adaptando às condições do lugar, pois o mar aqui vai de 2 a 20 pés em poucas horas. Um conselho especial: pegue a famosa onda "saideira" antes do sol se pôr, ou a possibilidades de você ficar lá fora e virar parte da cadeia alimentar marinha é grande. Tivemos casos de surfistas resgatados pela guarda costeira às 10 horas da noite no outside de Pipeline. As correntes aqui são muito fortes, como a de Waimea, Pupukea (Pipe), Sunset, Backyards e Phantoms, e se você perder a prancha se prepare para usar o plano B, pois será no mínimo 45 minutos a uma hora de nado até a praia. Não é sempre que a equipe de resgate vai estar na área, a costa do North Shore é grande.

Como você iniciou na pintura, qual seu estilo e de onde vem a sua inspiração?

É só um passatempo, uma descompressão de todas estas atividades, a pintura me relaxa. Meu estilo é o mais realista possível, sou muito detalhista, uso acrílico na tela. Pinto tartarugas marinhas pela dificuldade dos detalhes, como o casco, água, luz, sombra, cores e texturas dos corais, tudo num só elemento. Mas venho pintando alguns 
gorilas também, acho impressionante a expressão do olhar humano neles. Minha inspiração vem dos artistas locais, como Wyland, Cris Lassen, mas sempre procuro aprender alguma coisa nas obras de Leonardo da Vinci. Quero também desenvolver novos estilos e técnicas com temas diferentes, como ondas, surf, cultura havaiana, etc. Atualmente meus quadros custam de US$ 300 a US$ 5 mil os originais.





Fale sobre como e aonde surgiu o foilboard, qual o tipo de onda ideal, os principais praticantes e dificuldades?

O esporte surgiu em Maui, através de experiências com uma cadeirinha equipada com um hydrofoil feita por Rush Randle, Laird Hamilton, Mark Angulo e Bret Lickle, que adaptaram a quilha numa prancha e testaram em pé nela, puxados pelo jet-ski, e logo depois nas ondas. O tipo de onda ideal é o vagalhão, que não quebra. É  incrível poder surfá-las planando numa quilha de quase um metro. Também há possibilidade de surfar ondas que quebram, vai depender do tempo e experiência do surfista.




Você é capaz de surfar partes da onda que nunca imaginaria ser possível, a velocidade e a suavidade são incríveis, você pode surfar por um longo tempo. Surfamos muitos dos outside reefs, ondulações que formam bem lá fora. O Rush Randle é o melhor da modalidade, trocamos muitas idéias e fatos, fazemos estudos e ajustes na quilha de hydrofoil e comparamos quando nos encontramos. Laird, Dave Kalama, Pete Cabrinha, Archie Kalepa, Kevin Ozzie são caras que andam muito, e no Brasil o Luis Gontier (Pipo) também vem arrebentando nas águas do litoral paulista. As dificuldades estão no fato de que para aprender ,você precisa de um bom piloto no jet-ski, muita paciência e lembre: você está quase um metro fora da água, quando você cai há um certo impacto. Utilizamos botas de snowboard e estamos conectados com a prancha, e em alguns casos tem que tomar algumas ondas na cabeça - mas há um dispositivo rápido caso tenha que se desconectar. O equilíbrio na onda é fundamental, a quilha é muito sensível e a foil atinge velocidades que podem chegar a 60 km por hora.


http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Surfe/0,,MUL236653-7497,00.html Gabrieli Lomba - 22/12/2007.  acesso dia 26/11/13 

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